Marco Antônio de Tommaso "é
fundamental criar uma identidade estética" Com ampla
experiência no tema autoimagem, o psicoterapeuta Marco Antônio de Tommaso refuta
pressões pelo chamado corpo perfeito
Por:
Lucas Vasques / Fotos: Arquivo pessoal
Um dos mistérios mais evidentes na mente humana é como as pessoas se
enxergam. É possível definir se a imagem corporal que elas formam corresponde à
realidade ou é fruto de fatores e experiências pessoais, além de pressões
culturais? Quem pensa que essas dúvidas são prerrogativas, somente, das modelos
profissionais e de outros profissionais que lidam com a beleza em suas
atividades, está equivocado. Todas as pessoas estão sujeitas a questionamentos
dessa natureza. Marco Antônio de Tommaso, psicólogo e psicoterapeuta, faz
questão de ressaltar que a imagem estética propagada pela mídia, pela moda e
pela publicidade pertence a uma parcela da população que vai de meio a 1% das
pessoas em todo o mundo. “As magras são exceções genéticas”, resume.
O psicólogo salienta que se for considerado o aspecto biológico, o padrão
corresponderia a um Índice de Massa Corporal (IMC) de 18,5 a 24,5, considerado
pela Organização Mundial de Saúde (OMS) a faixa em que há menor risco para
doenças. O biótipo de uma modelo ou de quem cumpre a meta de chegar a esse
patamar, por exemplo, implica num IMC de 16,5 a 17,0, ou ainda menos. Segundo
Tommaso, se essa pessoa não for autenticamente assim, será classificada como
subnutrida. Por isso, a situação deve ser tratada com muita cautela. “Em vista
desse quadro, o padrão não é padrão. Todos devem procurar a beleza nas
diferenças, não na igualdade. É preciso desenvolver uma identidade estética, sem
se preocupar em seguir regras. Beleza é muito mais do que medida de quadril,
cintura e cor dos olhos. Está indissociada de saúde e de autoestima. Portanto,
em matéria de beleza não existe ‘mais que’, mas o ‘diferente de’”, avalia.
Tommaso atuou em pesquisa e atendimento no Instituto de Psiquiatria do
Hospital das Clínicas, da USP. É credenciado pela Associação Brasileira para o
Estudo da Obesidade, além de ser psicólogo da Agência L´Equipe de modelos.
Também se especializou em transtornos alimentares e acompanhamento psicológico
em programas de emagrecimento. Colunista de Psicologia do site www.giselebundchen.com.br.
Como analisa a questão da autoimagem? como lidar
com os padrões de beleza impostos pelo mercado e pela mídia?
Marco Antônio de Tommaso
– Primeiramente, é bom destacar que a autoimagem é um componente
da autoestima. É a imagem corporal que cada pessoa faz dela mesma. Trata-se de
uma espécie de representação mental do corpo. Ela sempre vem acompanhada de
emoções, sentimentos e é, fundamentalmente, influenciada por experiências
pessoais vividas, pela forma de criação, pela educação recebida e, também, por
inúmeros padrões culturais. A imagem estética propagada pela mídia, pela moda e
pela publicidade pertence a uma parcela da população que vai de meio a 1% das
pessoas em todo o mundo. É importante esclarecer que as magras são exceções
genéticas. A mídia, a moda e a publicidade induzem a seguir essa imagem
estética. A revolução da mulher nos anos 70 foi ótima, trouxe inúmeros
benefícios, mas, em contrapartida, a deixou refém do próprio corpo. Existem
casos de mulheres que são geneticamente dessa forma, magras, mas não são
subnutridas. Mesmo assim, todas estão insatisfeitas com o corpo. Elas criam uma
imagem cultural distorcida da realidade. As que fazem parte da maioria não
integram o padrão. Outro aspecto a ser destacado é que a beleza é totalmente
subjetiva. Para se definir se uma é mais bonita do que a outra é necessário
emitir opinião. Não é o caso de ser mais ou menos, melhor ou pior. Há
diferenças, que não são exatas e não se pode comprovar. Por exemplo, o elefante
é maior do que a tartaruga. Isso é fato, basta olhar. Agora, não existe um
belezômetro para se medir a beleza das pessoas. Por isso, é essencial ter uma
autoestima suficiente para mediar os valores que vêm de fora. É fundamental
criar uma identidade estética.
A revolução da mulher nos anos 70 foi
ótima, trouxe inúmeros benefícios, mas, em contrapartida, a deixou refém do
próprio corpo
Quais os mecanismos que prejudicam a autoimagem,
a ponto de se chegar a sofrer com doenças como anorexia ou
bulimia? Tommaso –
É preciso perguntar o que é causa ou efeito. Essa definição
ainda não se sabe. A busca indiscriminada pelo corpo ideal pode levar a esse
tipo de consequências. Fatores psicológicos, culturais e familiares contribuem
muito para se chegar a essa situação de transtornos alimentares. A mulher, na
maioria dos casos, pode ter 28 quilos e se ver obesa. Essa tendência existe
desde antes da Idade Média, quando as mulheres faziam jejum para se santificar.
Há alguns anos, uma modelo famosa morreu e fizeram várias campanhas no sentido
de se acabar com a exigência do mercado de se ter o corpo magro e dito perfeito.
Passada a efervescência do fato, diminuíram de 90 para 88 o limite do quadril
para as modelos. Ou seja, nada adiantou. A verdade é que cada um tem um biótipo.
A reconhecida modelo internacional Cindy Crawford tinha uma frase bem
interessante sobre essa questão: “Antes de passar duas horas no maquiador e no
cabeleireiro nem eu sou Cindy Crawford”.
O que ocorre na cabeça das pessoas para que elas
deixem chegar ao extremo de ser acometidas por doenças desse tipo, como bulimia
ou anorexia? Tommaso
– Essas pessoas não sabem lidar com a pressão cultural que
sofrem no dia a dia. Posso citar outro exemplo: uma mulher começa uma dieta
inofensiva, até mesmo orientada pelo médico. Daquelas para perder apenas alguns
quilos. Aos poucos, devido à exigência externa, vai diminuindo sua alimentação,
tirando proteínas, carboidratos até chegar ao jejum. Nesse estágio ela passa a
falar e pensar somente sobre esse assunto, ou seja, forma física. Tudo o que ela
passa a fazer tem relação com o tema. É um processo que vai aumentando em
intensidade até trazer consequências sérias.
Como as pessoas podem se blindar desse problema
para n ão chegar à doença? Tommaso – A pessoa consegue se blindar
desses fatores fazendo uma filtragem de autoestima. Afinal, essa magreza não é o
verdadeiro padrão. Aliás, essa palavra é utilizada, na maioria das vezes, de
forma errada. Padrão é o que se usa para medir características da maioria. E
essa imagem corporal, definitivamente, não faz parte da maioria. As pessoas
precisam entender que todos os corpos têm limites. Nenhum é infinitamente
maleável, que pode sofrer transformações radicais a toda hora.
De que forma as diversas correntes da psicologia
tratam os transtornos ligados à autoimagem? Tommaso – Todas as correntes da Psicologia
têm grande preocupação com esse fato e suas consequências. Afinal, a mente das
pessoas passa por uma série de alterações quando isso acontece. Portanto, nunca
é demais ressaltar que é fundamental fortalecer a autoestima para tudo na vida,
para negociar um pagamento, para iniciar num trabalho, para paquerar. As pessoas
precisam confiar nelas próprias. Todas as escolas da Psicologia lidam bem com
isso, para ajudar as pessoas.
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