COMPULSÃO POR CHOCOLATE E DOCES (“CRAVING”)
Uma das alterações de comportamento alimentar que mais atrapalham o processo de emagrecimento é a “necessidade” relatada pelos pacientes por chocolate ou doces.
Tecnicamente essa “vontade” é conhecida por CRAVING, em analogia à busca ansiosa por uma substancia em particular.
É caracterizado por um ataque súbito, irresistível para comer com urgência um alimento em particular, fora das refeições, habitualmente chocolate, doces, sorvete ou outros alimentos ricos em carboidratos e gorduras. A pessoa sente grande ansiedade e vontade irrefreável de ingerir aquele alimento. Ao fazê-lo obtém alivio momentâneo e, se estiver em processo de emagrecimento, esse alívio é seguido de culpa, que reforça a ansiedade, que leva a comer de novo, em círculos viciosos.
O CRAVING deve ser visto do ponto de vista físico e psicológico. Grande parte das calorias do chocolate provem de carboidratos, que interferem na produção de serotonina, neuro transmissor que modula o sistema nervoso. Outra porção deriva da gordura, que elevaria os níveis de endorfina, substancia que produz prazer e alivia a tensão. Alem da presença de cafeína e da teobromina (componente do cacau) o chocolate contém feniletilamina, que eleva a produção de endorfina.
Só que essa reação bioquímica é imediata e se processa com pequenas quantidades de chocolate. Se a pessoa está em processo de emagrecimento, provém à culpa, a ansiedade como conseqüência de ter comido, a sensação de descontrole, o medo de “ter estragado tudo” e esse novo desconforto leva a um ato compulsivo.
A maioria das pessoas associa o chocolate, os doces, sorvetes a momentos felizes de suas vidas e, em situações de desconforto interno, ansiedade, stress ou depressão pode voltar-se automaticamente para esse lenitivo. O alimento, desde a mais tenra idade, constitui o primeiro ansiolítico e antidepressivo. Quando o bebe chora, esperneia por fome, raiva, dor ou o que quer que seja, é tratado com leite materno ou mamadeira, mais acalanto e calor do corpo da mãe. Essa associação cria um “atalho” cerebral em nível emocional muito precoce e poderoso (não esqueçamos que no período de amamentação o cérebro emocional está formado, mas o racional ainda não) e que poderá ser indevidamente disparada, movida, talvez, por fragmentos de estímulos, longinquamente semelhantes à situação original, e dos quais não temos acesso racional. Estímulos internos sub liminares de desconforto levam a esses alimentos que aliviam provisoriamente esse mal estar e “solidificam” essa antiga associação.
Alguns “chocolatras” que necessitam emagrecer entram em depressão quando o chocolate é suprimido e abandonam a dieta, razão pela quais muitas nutricionistas incluem pequenas porções na reeducação alimentar.
Mas, quando o chocolate representa algo mais que isso, quando atua como lenitivo para emoções das quais a pessoa não tem consciência, deve ser trabalhada psicologicamente.
Dr. Marco Antonio De Tommaso
- Psicólogo e psicoterapeuta pela Universidade de São Paulo
- Atuou no IPQ HC USP em pesquisa e atendimento
- Credenciado pela Assoc Bras para Estudo da Obesidade
- Consultor da Unilever - Dove de 2004 a 2010
- Articulista da revista Boa Forma “No Divã”
- Psicólogo da Agência L'Equipe de modelos.
- Consultor de psicologia do site www.giselebundchen.com.br
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