AUTO
SABOTAGEM: O “MEDO DE SER FELIZ”
Algumas
pessoas temem que um projeto seu, mesmo que embasado em sua competência, “não
dê certo”. Mas, com freqüência, quando indagadas “e se der certo?”, notamos
embaraço e surpresa. Parecem entrar na situação “para não dar certo”. Parecem
se auto sabotar!Tudo foi planejado corretamente, com detalhes, mas, na hora H. algo
ocorreu e tudo ruiu. E, muitas vezes, por um ato que ela avalia como
“involuntário” ou casual.
Estas pessoas parecem ter sido “programadas”, modeladas pela educação
para “darem errado”. Não se sentem merecedoras da felicidade. Sua baixa autoestima
faz com que, embora conscientemente aspirem a felicidade, inconscientemente
sabotem seus mais sinceros ideais. E, quanto mais baixa a autoestima, menor
será a capacidade de se sentirem merecedoras do sucesso. Quando entabolam um
projeto não se preparam para vencer, mas para serem vitimas perdedoras. Quando
há um conflito entre um conteúdo inconsciente e uma vontade consciente... vence
o lado inconsciente.
Ser feliz parece proibido para as pessoas de baixa autoestima. A
felicidade parece incomodar, gerar ansiedade e desconforto. Parece evocar ecos
do passado que dizem “não mereço ser feliz”. Muitas vezes ocorrem culpa e
sensação de inferioridade. Diante da eminência do sucesso é como se a pessoa se
sentisse um impostor, passível de ser descoberto a qualquer momento. A falta de
coragem de assumir a felicidade faz com que, ao invés de questionar essas vozes
destrutivas num diálogo interno, acreditem piamente nela e a obedeçam.
É o caso da jovem de 26 anos, promovida em seu trabalho, que, apavorada
por avaliar mal sua capacidade de fazer frente às novas exigências, passa a
botar os pés pelas mãos e comete falhas aparentemente inexplicáveis e que a
comprometem na nova empreitada. Ou do ator que, após muita luta e preparo, tem
sua oportunidade numa grande emissora de TV. Bloqueia texto, se atrasa, erra ou
esquece tópicos importantes. Tudo ia bem, mas... De repente...O medo de ser
feliz ocorre na vida afetiva, profissional, social, ou, mais sucintamente, na
vida da pessoa como um todo.
O medo da felicidade não é conseqüência da incompetência, mas da má
avaliação da própria competência. Como se, apesar de desejarem seus
objetivos, tivessem uma sensação íntima de incapacidade. A voz interna do
imerecimento parece dizer “você é um engodo!”!
Na base está a baixa autoestima. A sensação de que seu destino não é ser
feliz. Um sentimento de culpa baseado em crenças errôneas acerca de si mesmo, do
ambiente e do futuro. Pessoas com baixa auto-estima se condenam com a
autopunição e provocam o insucesso e sua ocorrência reforça as crenças
subjacentes de incapacidade. A profecia inconsciente se realiza. Diferentemente,
pessoas com autoestima adequada perseveram, tomando o insucesso como
oportunidade de aprendizado, e aumentam as chances de vitória.
Se tais crenças subjacentes não forem modificadas as profecias
continuarão ocorrendo. Sem um trabalho psicoterápico que modifique essas
crenças o futuro continuará sendo função do passado. Baseados na sensação de
incapacidade anterior, novos fracassos ocorrem e reforçam esse sentimento e o
medo de dar certo permanece. São as pessoas reconhecidamente competentes que na
hora H se auto-sabotam. Pessoas que não tiveram coragem de assumir o direito à
felicidade e se envolvem num desastroso destino criado por eles mesmos. “Ir
bem”, “ser feliz”, “conseguir”, conflita com as avaliações mais profundas a seu
próprio respeito. Se tais avaliações não forem revistas a felicidade será
sempre ansiosa...
Dr. Marco
Antonio De Tommaso
- Psicólogo e psicoterapeuta pela Universidade de São Paulo
- Atuou no IPQ do HC USP em pesquisa e atendimento
- Credenciado pela Assoc Bras para Estudo da Obesidade
- Consultor da Unilever - Dove na Campanha pela Real Beleza
- Psicólogo da Agência L'Equipe de
modelos
-
Articulista da Revista Boa Forma "No Divã".
11 -
3887 9738 tommaso@terra.com.br
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